quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Mais um começo


Quando eu vi essa imagem, numa dessas minhas procuras por aí, por esse mundo que nem existe, e tudo é tão banalizado, por mais que não estivesse nos meus parâmetros, e nem nas minhas buscas, eu salvei tal imagem, instintivamente. Eu lembrei de dias em que a gente fazia a festa das bonecas, tudo tão pequeninho, bexiguinhas e docinhos, velas minúsculas, e os parabéns, ou ainda o dia em que eu ganhei a máquinha de sorvete. Não sei muito bem porque, mas das duas, uma: ou eu devia ser como meus hermanos, louca por sorvete, ou eu queria tanto tanto tal brinquedo sorveteiro, que parecia tão diferente das Barbies, ou boneca-que-faz-xixi, ou boneca-que-chora, que eu fiquei muito feliz, e a fotografia das duas, sentadas na sacada do nosso antigo apartamento, girando a maçaneta e a massa grossa e gelada saindo, acho que era da Eliana, e uma lembrança rápida e estranha desse momento. Eu lembro de bastante coisa. Como das festinhas que mais pareciam festanças, que eu recebia todo mês de Março, quando ainda existia no meu vocabulário MEU pai, e MINHA mãe. Há também esse dia, em que eu deixei de ser a única, e dividi então o espaço da casa grande, que era todo meu, com um bebê careca, com cara de joelho, grandão e gordinho. Que ainda, chorava e tomava toda a atenção, enquanto eu me sentia desolada e confusa, no canto do quarto de hospital, com a Barbie Sereia que esse "ser de outro planeta" tinha me trazido. Pensei uma vez, e eu lembro, que eu preferia ter meu papai e mamãe de volta, do que aquela boneca com cabelos rosas e que só me entreteu temporariamente. E que bom, que com o tempo, esse pensamento foi saindo cada vez mais da minha cabecinha, e eu alimentei muito pouco qualquer ciúme. Não era uma criança ciumenta, assim como não me vejo uma adulta com tal característica; e devo todo meu agradecimento à esses meus genitores, na época novatos e joviais, e que lidaram superbem, sabendo me educar para amar essa e a outra, outras crianças que estavam por vir.
Fico feliz com todas essas questões, esses momentos e sensações que vivenciei. Me ajudaram a ser uma cidadã melhor, e ampliar meus horizontes, não ser uma pessoa só egoísta. Coisa que só sabe, e aprende mesmo que na marra, quem passa pela oportunidade de ter irmãos. De emprestar um guarda-chuva, sabendo que você vai se molhar, ou deixar de comer ímpar bombom de chocolate branco que vêm na caixa da Nestlé, porque vai ter choradeira, birra e briga. Muito obrigada, mãe.
Obrigada também, por ser tão minha amiga. Minha melhor amiga. A única que se revelou minha companheira à longo prazo, nos piores e nas melhores. Vitórias, derrotas, choro ou felicidade. Angústia, ansiedade. Te agradeço pela mão caridosa, pelo conforto e muitas vezes pelo balde de água fria, necessário, quando eu insistia em ser tão sonhadora, ou inspiradora. Eu posso dizer, que eu tenho uma das melhores mães do mundo. Se houvesse um ranking, uma lista, estaria ali ó: Gê. Vendo todos esses projetos de genitoras que se apresentam por aí, abandonam os filhos, ou deixam para a avó cuidar; pior ainda: ganham a guarda, de tais crianças, adolescentes, e quem cuida são as empregadas, ou os próprios serezinhos, que aprendem a viver por si mesmos.
E por mais que, muitas vezes eu tenha reclamado das preocupações excessivas, ou dos impulsos de me defender com unhas e dentes (e depoimentos), enfim, as indiretas dadas, mas sei que é tudo por amor, incondicional. Chego a achar muitas vezes, que faria ou farei o mesmo, quando na condição materna, quando me criarem esses laços de mãe e compaixão, reais.
Te amo,
Camila

Um comentário:

  1. Sério, tu sabe como tocar lá fundo de qualquer pessoa e eu então, não páro de chorar,as lágrimas saem, eu limpo meu rosoto e elas continuam saindo,fico lembrando de tudo o que a gente já viveu juntas.
    te amo

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