terça-feira, 26 de janeiro de 2010

um sinal de sorte




Na volta do banho de mar, refrescada depois de fritar como um frango assado à venda naquelas gaiolas, virando e girando, para tentar pegar alguma cor, molhada e salgada, uma joaninha laranja pousou no meu braço. Esquizofrênica, neurótica e odiosa de insetos, como de costume, e achando que podia ser ou o mosquito da dengue, e quem sabe uma vespa, marimbondo, sacudi a parte mais odiada do meu corpo ossudo e ao mesmo tempo, voluptoso. E vi na areia aquele ser tão inofensivo e com as patinhas agitadas, procurando uma pele para aderir, subir e trafegar, e eu desjeitosa e medrosa espantei toda a sorte que o animal mais delicado do planeta queria me trazer. Alimentada desde pequena com essas histórias de acaso, sorte e merecimento, minha mãe, apaixonada por tudo que tenha bolinhas, e seja deliberadamente frágil, me contava que quando uma joaninha pousa assim em nós, nos escolhe no meio de uma grama, praça ou até na areia, é um sinal de sorte.
Depois pensei por alguns segundos, e deixei meu corpo o mais rente possível do chão, para acolher toda aquela vibração boa, nem que fosse metade, ou ainda algum sentimento bondoso me fosse passado, tranfusado. Deixei-a passear nos meus braços, nas mãos, unhas e pescoço. E ainda teve direito a fotografia e olhares curiosos dos argentinos abundantes aqui nas praias do Sul.
Epifaniei por tempos depois sobre o que significava sorte, na minha concepção. Tenho um rabo danado de ter nascido com uma família assim acolhedora e bipolar, mas que me complementa em quase todos sentidos. Nasci com o bumbum virado para a lua por ter estudado em colégios católicos maravilhosos ou inovadores, unificadores. E sou mais afortunada ainda por ser única, por ter construido essa personalidade errante e que ainda está se moldando, dentro das estruturas e contextos que pode. Mas fiquei feliz, porque por mais sozinha que me sinta, a gente sempre carrega um pouco mais a fé depois de uns atos do acaso assim, ou destino. Enche nossas expectativas, já murchas e desacreditadas em renovadas ou completas de novo. Posso estar mofando aqui, no sólo brasileiro e talvez esses meus planos rápidos e rasteiros não dêem certo, e muita gente querendo pegar minha essência, caráter ou diversidade assim, no ar, e disfarçadamente, roubando frases da minha página, e plagiando textos aqui do blog, querendo igualdade do que não permite. Isso me tira um pouco a paciência, que já é minúscula, entretanto ainda estou calma. E mais: vi meus deslizes declarados e estreitos, e só quando os compreendi, as coisas continuaram a andar. Apenas adianto que estou feliz, e hoje a joaninha é mais importante do que todas as combinações para o futuro, ou convites ainda não oficiais, encontros marcados.
Ainda que hoje algumas coisas talvez tenham se perdido de todo esse trabalho exaustivo que vim cumprindo, em prol à minha saída da mesmice, o pontinho laranja mais delicado do universo me dá uma fé imensa de que eu sou forte capaz de quebrar conceitos, vencer adversidades e ainda assim, sair por cima de toda essa bagunça.

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